Creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais viril e de mais perfeito do que o Cristo; e eu digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e não pode existir. Mais do que isto: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se acha n'Ele, prefiro ficar com o Cristo a ficar com a verdade. (Dostoievski)

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20 de ago. de 2007

Estética [1]

"(...) A palavra 'estética' vem do grego aísthesis, que significa sensação, sentimento. Diferentemente da poética, que já parte de gêneros artísticos constituídos, a estética analisa o complexo das sensações e dos sentimentos, investiga sua interação nas atividades físicas e mentais do homem, debruçando-se sobre as produções (artísticas ou não) da sensibilidade, com o fim de determinar suas relações com o conhecimento, a razão e a ética. A questão básica proposta pelo termo gira em torno do problema do gosto: nossos juízos de valor e preferências quanto às coisas sensíveis são meramente subjetivos e arbitrários? As regras do gosto seriam meras convenções, normas impostas pela autoridade de grupos ou indivíduos? Ou haveria no gosto um elemento racional ou uma capacidade autônoma de perceber e julgar?

No entanto, nessa investigação, muito ampla, a obra de arte sempre tende a ocupar um lugar de destaque, e os enfoques apresentados aqui seguirão o viés da experência estética voltado para as produções artísticas e culturais.

A disciplina acadêmica da estética começa tão-somente no século XVIII, com a investigação do filósofo alemão Alexander Baumgarten (1714-1762). Antes dele, as estéticas sempre estavam integradas em abordagens sistemáticas da filosofia, confundindo-se muitas vezes com reflexões auxiliares e iluminando problemas éticos ou a teoria do conhecimento (por exemplo, em Platão, no neoplatonismo cristão e nas abordagens éticas e utilitaristas dos autores ingleses e escoceses). Entre 1750 e 1758, Baumgarten publica duas obras -- uma delas intitulada Aesthetik --, as quais separam a doutrina da beleza estética das outras partes da filosofia. O autor sublinha a autonomia da disciplina, chamando-a, porém, de 'irmã mais jovem da lógica'.

A plena autonomia da experiência estética aparece na Crítica do juízo (ou Crítica da faculdade de julgar), de Kant (1790), e , novamente, com algumas reservas, na Estética, de Hegel (1820). Quando Kant começa a refletir sobre o juízo de gosto, essa hierarquia que subordina a experiência sensível à cognitiva, racional e ética se faz sentir ainda. No entanto, Kant marca um grande avanço. Num primeiro momento, ele ilumina a contribuição da imaginação para as atividades cognitivas; num segundo, reconhece que a capacidade da imaginação, que seleciona conjuntos de dados da experiência sensível, oferecendo-os à avaliação cognitiva, repousa sobre uma faculdade autônoma e a priori (isto é, não empírica, não determinada pela sensibilidade). Sua obra mencionada acima fornece a contribuição mais relevante para uma visão da experiência estética como atividade autônoma.

Por onde começar? A maioria dos manuais de estética parte (consciente ou inconscientemente) de um pressuposto empírico e instrumental compartilhado com as histórias da arte. Supõe-se que haveria uma 'origem' da arte: os restos arqueológicos de instrumentos e obras (por exemplo, pinturas rupestres) pré-históricos comprovariam interesses ou finalidades práticas dessas produções 'artísticas'. Nessa visão, a experiência estética e a arte não teriam um estatuto autônomo, e sim preencheriam uma função determinada por necessidades alheias à arte. No entanto, é fácil conceber que, independentemente da oposição da função instrumental e do estatuto 'desinteressado' ou estético dos objetos pré-históricos, existem e sempre existiram formas efêmeras de experência estética. Qual seria a 'função' de gestos e sons ritmados, por exemplo? Eles servem a um 'interesse', preenchem finalidades predeterminadas? Ou constituem uma ordenação simultaneamente estética e lógica? Não seriam essas realidades sensíveis antes os elementos básicos, a linguagem e a matriz, por assim dizer, que deram origem à cultura? É verdade que, nas culturas arcaicas, é difícil distinguir entre os aspectos utilitários e estéticos: duas pontas de flecha encontradas em um túmulo, delicadamente esculpidas em ágata e cristal, representariam 'utensílios' de caça ou objetos 'belos' que dignificam os restos mortais da pessoa enterrada? Os canais de irrigação e as pirâmides no planalto boliviano são meros dispositivos tecnológicos ou obras-primas da escultura? Mencionamos esses exemplos apenas para mostrar como a coisa estética e a tecnológica, o objeto sensível e sua dimensão outra (transcendente ou ontológica), se confundem inextrincavelmente -- fato este que é ressaltado também pela etimologia dos termos gregos que designam a arte e a tecnologia dos tempos arcaicos: tékhne e mekhané assinalam a raiz comum da invenção criadora e da perícia tecnológica.

(...)"

in: Estética, de Kathrin H. Rosenfield. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2006, p. 7-10.

Comprei o livro Cristianismo Criativo, de Steve Turner (fico devendo os dados bibliográficos). Comecei a folhear, mas resolvi ler Estética antes, a fim de compreender melhor o que o autor desenvolve. De cara, parece-me que ele deixa de se aprofundar em questões formadoras da estética cristã, o que K. Rosenfield desenvolve de modo claro quando trata da associação grega clássica do belo e do bem e dos conceitos socráticos e platônicos de estética, que influenciaram decisivamente a arte cristã, desde sua origem, de modo amplo. O livro de Rosenfield é bastante didático, instrutivo, sintético e barato. Vale a pena. Quanto ao livro de Steve Turner, ainda vou lê-lo.

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