Creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais viril e de mais perfeito do que o Cristo; e eu digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e não pode existir. Mais do que isto: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se acha n'Ele, prefiro ficar com o Cristo a ficar com a verdade. (Dostoievski)

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15 de set. de 2007

Estética [4]

(...) Progresivamente, seus diálogos submetem o belo a uma investigação filosófica que separa os diversos conceitos e, assim, permite pensar a idéia abstrata de "belo", independentemente dos fenômenos partiiculares nos quais essa idéia se realiza.
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Eis a razão pela qual muitos comentaristas dizem que a metafísica de Platão é inteiramente uma estética. Isso é verdade em muitos sentidos, em particular devido ao fato de que o filósofo deriva das experiências estéticas e artísticas que marcaram a sua época o vocabulário com que construirá sua teoria do conhecimento (epistemologia). Na infância de Platão, ocorreram inovações técnicas que nós chamaríamos de realistas ou naturalistas: a pintura de retrato e as cenografias com efeito de perspectiva (trompe l'oeil) se parecem com a realidade, embora transformem o objeto tridimensional em superfície bidimensional. É dessas experiências novas que Platão deriva as noções centrais de sua metafísica. Alinhando os opostos correspondentes -- modelo e cópia, ser e aparência, idéia e imitação --, ele obtém a analogia que lhe permite pensar todo o mundo vivo e físico como uma "imitação" de um modelo imaterial e metafísico: a idéia.
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Essas analogias entre a realidade sensível e o seu além metafísico constituem uma inovação filosófica de primeira importância. No entanto, é apenas uma meia verdade deduzir desse fato que a metafísica de Platão seja por inteiro uma estética. Pois a estética de Platão -- melhor dito: os esboços de teoria da arte que o filósofo intercala em seu sistema -- constitui muito mais uma doutrina normativa com nítidos traços sociocríticos, éticos e políticos do que uma estética.
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O que preocupa Platão, por exemplo, no diálogo Íon ou na República, são as inúmeras possibilidades de abusar dos meios técnicos que a arte coloca nas mãos de pessoas nem sempre confiáveis. Não é um acaso que as concepções de arte da Antiguidade confundam numa só palavra -- tékhne ou mekhané -- as idéias (para nós distintas) de "domínio técnico" e "arte" como inovação ou criação. Antecipando a desconfiança que os modernos começaram a lançar contra o progresso tecnológico que dilapida a essência das inovações artísticas e humanas, Platão levanta a voz contra o poder irresponsável de aedos e sofistas, que usam suas capacidades de declamação e de retórica para manipular os incautos, capturando as regiões inferiores da alma com engodos e burlando o raciocínio com falsas aparências. É com esse intuito político (e sociocrítico) que ele elogia o aspecto estático e ritual da arte egípcia, da música e da pintura, da liturgia e do estatutário. Todos os efeitos (ilegítimos, segundo Platão) graças aos quais a música influencia as emoções, os truques da perspectiva e da retórica, as estratégias para dar impacto visual a uma imagem -- enfim, todo o domínio técnico do qual os artistas clássicos e seu público se orgulham até hoje -- parecem ser vistos tão-somente como uma possível degradação que ameaçaria o pensamento claro, a moral e os bons costumes. O maior charlatão era, para Platão, Górgias, o fundador da retórica asiática -- exemplo de decadência e da prostituição da palavra.
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In: Estética, de Kathrin H. Rosenfield. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2006, pp. 12-13.

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