Creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais viril e de mais perfeito do que o Cristo; e eu digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e não pode existir. Mais do que isto: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se acha n'Ele, prefiro ficar com o Cristo a ficar com a verdade. (Dostoievski)

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22 de mai. de 2008


De bolso vazio!

Entre a carteira recheada e o bolso vazio, a segunda opção é muito melhor que a primeira. O pão-durismo e o consumismo têm muito a ver com a carteira recheada. A viúva de bolso vazio depositou no gazofilácio "duas pequenas moedas de cobre, de muito pouco valor." Ela deu tudo o que possuía para viver. Mas os de carteira recheada lançaram no mesmo gazofilácio o que lhes sobrava (Mc 12.41-44).

A pior marca da carteira recheada é o estado de espírito acentuadamente complicado e perigoso que ela fomenta: a auto-suficiência. A carteira recheada pode ser um bom passaporte nesta vida e neste mundo, mas não abre porta alguma em direção a Deus, tanto nesta vida como na outra vida. Só se chega a Deus de bolsos vazios. O homem e a mulher de carteiras recheadas dificilmente bateriam em seu peito para clamar: "Ó Deus, tem pena de mim, pois sou pecador!" (Lc 18.13, NTLH).

Setecentos anos antes de Criso, a voz de Deus já falava aos desprovidos: "Venham, todos vocês que estão com sede, venham às águas; e vocês que não possuem dinheiro algum, venham, comprem e comam! Venham, comprem vinho e leite sem dinheiro e sem custo" (Is 55.1). De fato, as boas novas da salvação são para...

Os sem-água, os sem-dinheiro, os sem-leite e os sem-pão.

Os sem-perdão de pecados, os sem-reconciliação com Deus e os sem-paz de espírito.

Os sem-vez, os sem-valor, os sem-obras, os sem-razão, os sem-merecimento, os sem-crédito e os sem-saldo.

Os que querem ser perdoados, restaurados, salvos do pecado e da morte, têm de se aproximar de Deus de bolso vazio, sem defesa, sem desculpa, sem explicação, sem pretensão, sem esmola, sem história de sucesso.

A base da salvação repousa unicamente na graça de Deus: "Vocês são salvos pela graça mediante a fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus". Não é por meio de alguma obra "para que ninguém se glorie" (Ef 2.8-9). Pois "as nossas boas ações, que pensamos ser um lindo manto de justiça, não passam de trapos imundos" (Is 64.6, BV).

Martinho Lutero só teve consciência do perdão de seus pecados depois de se apresentar de bolsos vazios diante de Deus. O reformador declarava que não temos nenhum recurso próprio, nenhuma possibilidade de livramento em nós mesmos porque "não só as nossas injustiças são imundas, mas também as nossas justiças" (Martinho Lutero, Obras Selecionadas, v. 1, p. 357). Ele chamava graça àquela grande abóbada debaixo da qual colocava toda a imundícia que os escribas fariseus escondiam dentro dos sepulcros caiados ou que deixavam dentro do copo. Ele transferia todos os seus pecados, a sua miséria moral, o seu sentimento de culpa, as suas imundas "justiças", o seu desespero, o seu pavor do inferno e a ele mesmo por inteiro para debaixo daquela enorme calota que é a graça de Deus (Conversas com Lutero, p. 138).

Enquanto os de carteira recheada não se humilharem, tornando-se iguais aos de bolso vazio, não haverá salvação para eles. Daí o apelo do profeta: "venham, todos vocês que estão com sede (...) e vocês que não possuem dinheiro algum, venham, comprem e comam!" (Is 55.1).
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Texto publicado na Revista Ultimato (abertura), ano XLI, n. 312, maio/junho 2008, p. 3.
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